Blog Z
A Momo e os desafios do terror
Luiz Mateus Pacheco
Psicólogo do
NAP
CRP 07/27656
Não faz muito tempo,
fomos brindados com o desafio da baleia azul – jogo de nome infantil, mas que
não tinha nada de inocente. Desta vez, é o desafio da Momo que chama a atenção.
E ele já fez vítimas.
Mas, afinal, o que
está acontecendo com os nossos jovens?
Sempre que algo se
repete, sou levado a pensar nisso não como uma ocorrência fortuita do acaso,
mas como um produto de nossa sociedade. Se a Momo ou a Baleia se espalham como
fogo em palha, isso não é por acaso: alguma coisa nesses desafios fisga nossos
jovens. Existe algo aí capaz de atiçar neles o desejo. Mas o que há nesses
jogos de terror de tão atraente?
Estariam nossos
jovens sofrendo de desinformação quanto aos riscos? Não posso supor que seja
isso. Todos os dias nossos televisores ou telas das mais variadas formas ou
tamanhos transbordam tragédias e violência. Por isso, não deveriam tornar-se
mais assustados?
Talvez nós, adultos,
é que estejamos nos tornando mais temerosos numa taxa exponencial. Fechamos
nossas casas, construímos muros e nos guarnecemos com grades e alarmes. Senhas,
leitura biométrica e os mais variados apetrechos são instrumentos para guardar
aquilo que temos de mais precioso. Do lado de fora, estamos acelerados. Com
medo e acelerados.
Corremos
todos os dias. Trabalho, academia, faculdade e eventos que parecem não ter mais
fim. Cada vez mais cedo, nossos filhos são incluídos nesse frenético ritmo de
vida: creche, aula de dança, natação, arte marcial, língua estrangeira e uma
correria que não tem fim.
E nossos laços cada
vez mais frágeis.
Seguimos. E não
falamos. Não sofremos. Não podemos aceitar esses sentimentos. Então medicamos. Somente
anestesiados para aguentar toda essa pressão. Anestesiamos o sintoma. Se o
filho não para ou briga na escola, anestesiamos. E não ouse pensar em
negatividade – pensar nisso virou quase um crime na nossa sociedade.
Recentemente, caiu em
minhas mãos um texto creditado à Bruno Bettelheim, psicanalista famoso pelo
trabalho com crianças (e pouco lembrado por ter sobrevivido aos campos de
concentração nazistas). Datado de 1966, parece-me extremamente atual.
Bettelheim nos lembra que, as partes que negligenciamos no nosso Eu, tem o
estranho costume de nos surpreender com sua aparição. Nós temos negligenciado o
medo. Temos negligenciado a violência. E, especialmente, temos negligenciado a
morte. Fugir disso é correr num círculo que leva ao encontro inevitável.
Nossos jovens estão
trancados e superprotegidos. Mesmo assim, aventuram-se no risco da morte. Não
seriam esses desafios porta-vozes de algo que estamos negligenciando?
CRP 07/27656
Mas, afinal, o que está acontecendo com os nossos jovens?
Sempre que algo se repete, sou levado a pensar nisso não como uma ocorrência fortuita do acaso, mas como um produto de nossa sociedade. Se a Momo ou a Baleia se espalham como fogo em palha, isso não é por acaso: alguma coisa nesses desafios fisga nossos jovens. Existe algo aí capaz de atiçar neles o desejo. Mas o que há nesses jogos de terror de tão atraente?
Estariam nossos jovens sofrendo de desinformação quanto aos riscos? Não posso supor que seja isso. Todos os dias nossos televisores ou telas das mais variadas formas ou tamanhos transbordam tragédias e violência. Por isso, não deveriam tornar-se mais assustados?
Talvez nós, adultos, é que estejamos nos tornando mais temerosos numa taxa exponencial. Fechamos nossas casas, construímos muros e nos guarnecemos com grades e alarmes. Senhas, leitura biométrica e os mais variados apetrechos são instrumentos para guardar aquilo que temos de mais precioso. Do lado de fora, estamos acelerados. Com medo e acelerados.
Corremos todos os dias. Trabalho, academia, faculdade e eventos que parecem não ter mais fim. Cada vez mais cedo, nossos filhos são incluídos nesse frenético ritmo de vida: creche, aula de dança, natação, arte marcial, língua estrangeira e uma correria que não tem fim.
E nossos laços cada vez mais frágeis.
Seguimos. E não falamos. Não sofremos. Não podemos aceitar esses sentimentos. Então medicamos. Somente anestesiados para aguentar toda essa pressão. Anestesiamos o sintoma. Se o filho não para ou briga na escola, anestesiamos. E não ouse pensar em negatividade – pensar nisso virou quase um crime na nossa sociedade.
Recentemente, caiu em minhas mãos um texto creditado à Bruno Bettelheim, psicanalista famoso pelo trabalho com crianças (e pouco lembrado por ter sobrevivido aos campos de concentração nazistas). Datado de 1966, parece-me extremamente atual. Bettelheim nos lembra que, as partes que negligenciamos no nosso Eu, tem o estranho costume de nos surpreender com sua aparição. Nós temos negligenciado o medo. Temos negligenciado a violência. E, especialmente, temos negligenciado a morte. Fugir disso é correr num círculo que leva ao encontro inevitável.
Nossos jovens estão trancados e superprotegidos. Mesmo assim, aventuram-se no risco da morte. Não seriam esses desafios porta-vozes de algo que estamos negligenciando?