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Experiência alemã: Cooperativa das Gerações
Em meio à avalanche de novidades e transformações que o mundo tem
vivenciado nos últimos tempos, onde infelizmente algumas inovações nos trazem
tristeza ou preocupação, precisamos destacar aquilo que nasce com o propósito
da ajuda mútua, valorização das responsabilidades do indivíduo e
restabelecimento do senso coletivo. Em Schleiden, uma pequena cidade no
interior da Alemanha, onde metade da população de 14 mil habitantes é associada
ao banco cooperativo local, o VR-Bank Nordeifel eG, tive a felicidade de conhecer
uma possibilidade de organização socioeconômica: a Cooperativa das Gerações.
Nesta região próxima de Colônia, há muitos arranjos empresariais. A
ideia da Genossenchaft der Generationen, Cooperativa das Gerações, surgiu de um
grupo de jovens que, incomodados pelo fato de não terem nenhuma cooperativa
específica para eles, foram “provocados” por outras pessoas da comunidade, para
que então criassem algo. Depois de um tempo, os jovens apresentaram sua
proposta.
Imagine fazer parte de uma empresa onde todos são clientes e
fornecedores, e os negócios devem ser feitos somente entre os sócios. Uma
empresa de serviço e ao mesmo tempo de previdência. Uma empresa que pode pagar
com dinheiro ou trabalho. Onde você resgata as economias em dinheiro ou em
trabalho.
O que mais agrada e valoriza esta cooperativa é a possibilidade de
integração entre as gerações. É muito comum que pessoas de mais idade contratem
jovens para realizar pequenos consertos na casa, cuidar do jardim ou
acompanhá-los em compras ao supermercado, feira ou farmácia. O idoso paga, em
média, 7 euros por hora, e o jovem que prestou o serviço pode escolher entre
receber 4 euros, aplicar em uma conta previdência em um fundo da própria
cooperativa, ou ainda numa espécie de banco de horas para mais tarde trocar por
outros serviços. Os idosos também acabam envolvendo-se em atividades, e mais do
que isso, sentindo-se valorizados. Uma das possibilidades ocorre quando casais
deixam seus filhos aos cuidados destas pessoas mais experientes que, da mesma
forma, podem receber o pagamento da cooperativa ou deixar o “tempo” como
crédito para receber ajuda em outro momento. Ainda, ao final de cada ano, a
cooperativa faz apuração de suas contas, e divide os resultados entre os sócios
na proporção em que cada um participou.
Tiago Schmidt
Presidente da Sicredi Pioneira RS*
* Diretor da Trevo Estruturas Metálicas, ex-presidente e membro do Conselho Fiscal CDL EV/Ivoti, graduado em Administração de Empresas, pós-graduado em Cooperativismo e em Governança Corporativa.
Edição nº 15 - Fev/Mar 2018