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Sobre catástrofe, luto e memória

Brida Emanoele Spohn Cezar

Psicóloga do Espaço Vida em Movimento

CRP 07/26593

 

O que a imagem da catástrofe revela sobre nós e sobre os tempos que vivemos? Quais os movimentos que vislumbramos no sentido do seu desdobramento e quais as estratégias que produzimos para o seu enfrentamento? O abalo a que são submetidas as vidas que presenciam o desastre não se restringe apenas àquele cenário, alcançando inclusive os espectadores mais distantes. No entanto, apesar da consternação advinda da constatação de que “há apenas um céu cobrindo toda a Terra, colocando-nos em contato imediato com o destino daquelas pessoas” , isto não garante o reconhecimento de uma implicação capaz de mobilização. Do mesmo modo que uma tomada de posição não se sustenta necessariamente sobre um olhar atento à complexidade das situações, por vezes reduzidas a uma narrativa acerca do outro que não abarca a singularidade da sua perda e da sua história.

Os sobreviventes interrogam-nos até quando estão em silêncio, pois a sua aparição carrega um apelo em relação a visibilidade da destruição e da violência sofridas, além de uma insistência para que se estabeleçam as condições jurídicas, sociais e psíquicas imprescindíveis ao luto e a travessia que lhe corresponde. O compromisso ético com a memória da catástrofe reside neste desafio paradoxal de trabalhar a favor da lembrança e do esquecimento, visto que por um lado os eventos estão ameaçados de soterramento e aniquilação, enquanto que por outro exigem um esforço de elaboração e transmutação. Nietzsche  irá atribuir a uma força plástica regeneradora esta capacidade de assumir a fatalidade das coisas abandonando uma posição de impotência e ressentimento, entretanto, tal deslocamento só é possível mediante a assimilação e digestão do vivido. Caberia então indagarmos a psicologia a respeito de como ela opera (e se ela se ocupa com) esta ruptura entre a ruína e o ruminar, entre a promessa de conservação e a abertura para o inédito imbricado na repetição.

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